sábado, 26 de outubro de 2013

Monta, remonta e sobe: Sampaio chega à Série B com apostas certeiras e ajuda do imponderável

Um grande time se faz com ídolos. Mentira. Um grande time se faz com grandes jogadores, dinheiro, torcida apaixonada, inflamada, tradição construída ao longo de décadas e títulos. Verdade. Talvez. No futebol a verdade de hoje é a mentira de amanhã. Não é ciência, não há receita pronta para o sucesso, não há adjetivos na língua portuguesa que descrevam a lama emocional na qual um torcedor mergulha após uma derrota de seu time, ou o êxtase, a catarse de uma vitória. Ironicamente, esse lado inexplicável do futebol ajuda, e muito, a explicar a subida do Sampaio Corrêa para a Série B.
O time em si é bom e tem ídolos. Rodrigo Ramos, titular da meta boliviana desde 2008, Eloir (foto), volante que pode atuar como meia e inexplicavelmente jamais teve uma chance em um time de Série A. Tem torcida, um bom aporte financeiro, mas o planejamento, essa palavrinha que os profetas adoram usar para explicar tudo o que dá certo, foi pras cucuias quando Pimentinha, o craque do time na Série C, foi vendido. Preferiu ser Anderson Pimenta no quase rebaixado São Caetano, onde jogou quatro jogos, não fez nenhum gol e foi substituído em três. Além dele, Tiago Cavalcanti, vice-artilheiro da Série C com 10 gols, se mandou para o Bragantino.
Sem dupla de ataque, o jeito foi contratar uma reposição. Vieram Lucas e Leandro Kivel, e poderiam não dar certo, mas deram. O time cambaleou, sapateou, flertou, namorou, noivou e quase casou com a eliminação na primeira fase. Um gol do zagueiro-artilheiro Paulo Sérgio aos 47 minutos do segundo tempo contra o Fortaleza evitou o casório, (os cearenses, ao que tudo indica, não gostaram muito. Basta ver as cadeiras quebradas do Castelão de Fortaleza). Estava tirada a sorte grande: uma vaga no Grupo A da Série C, o mais maluco de todos os tempos de toda a história do futebol, era um bilhete premiado.
Faltava o mata-mata, o Macaé. Dois jogos separavam o céu da resignação em não aproveitar o bilhete premiado. No primeiro, um 5 a 3 que chegou a ser 5 a 1, em um Castelão superlotado. 47 mil pessoas num estádio que atualmente abriga 40 mil de maneira civilizada. O Botafogo, por exemplo, não deve ter colocado sozinho um público assim esse ano. E olha que o Botafogo está bem, bonito, lutando pela Libertadores, cheio de graça e com um craque-bilheteria, Seedorf, no meio-campo. Voltemos ao Sampaio, pois.
Em Macaé, a pressão foi pesada. Os donos da casa fizeram 1 a 0, mas Eloir, em um chute forte da entrada da área, cravou o lugar boliviano no subsolo do céu. É subsolo, alguns poderiam dizer. Mas também é céu. Questão de copo meio cheio ou meio vazio, mas para um time que em 2005 teve até as traves roubadas do próprio CT, é um grande avanço. E o herói tinha que ser Eloir, o melhor jogador do time desde sempre, o gaúcho que colocou Uruguaiana no mapa de São Luís e que agora já pode se equiparar, com esse gol decisivo, a Marcelo Baron, craque da Série C de 1997.

Em suma, o Sampaio está de volta ao seu lugar, com a força do elenco, da tradição, da torcida apaixonada e do imponderável, esse anjo da guarda que protege bêbados, crianças e times de futebol que merecem vencer. E pode querer mais, desde que se planeje para isso. Porque se brincar de montar e desmontar time igual lego durante o torneio, vai levar chumbo.

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