Um grande time se faz com ídolos. Mentira. Um grande time se
faz com grandes jogadores, dinheiro, torcida apaixonada, inflamada, tradição
construída ao longo de décadas e títulos. Verdade. Talvez. No futebol a verdade
de hoje é a mentira de amanhã. Não é ciência, não há receita pronta para o
sucesso, não há adjetivos na língua portuguesa que descrevam a lama emocional
na qual um torcedor mergulha após uma derrota de seu time, ou o êxtase, a catarse
de uma vitória. Ironicamente, esse lado inexplicável do futebol ajuda, e
muito, a explicar a subida do Sampaio Corrêa para a Série B.
O time em si é bom e tem ídolos. Rodrigo Ramos, titular da
meta boliviana desde 2008, Eloir (foto), volante que pode atuar como meia e
inexplicavelmente jamais teve uma chance em um time de Série A. Tem torcida, um
bom aporte financeiro, mas o planejamento, essa palavrinha que os profetas
adoram usar para explicar tudo o que dá certo, foi pras cucuias quando
Pimentinha, o craque do time na Série C, foi vendido. Preferiu ser Anderson Pimenta no quase rebaixado São Caetano, onde jogou quatro jogos, não fez nenhum
gol e foi substituído em três. Além dele, Tiago Cavalcanti, vice-artilheiro da
Série C com 10 gols, se mandou para o Bragantino.
Sem dupla de ataque, o jeito foi contratar uma reposição.
Vieram Lucas e Leandro Kivel, e poderiam não dar certo, mas deram. O time
cambaleou, sapateou, flertou, namorou, noivou e quase casou com a eliminação na
primeira fase. Um gol do zagueiro-artilheiro Paulo Sérgio aos 47 minutos do
segundo tempo contra o Fortaleza evitou o casório, (os cearenses, ao que tudo
indica, não gostaram muito. Basta ver as cadeiras quebradas do Castelão de
Fortaleza). Estava tirada a sorte grande: uma vaga no Grupo A da Série C, o
mais maluco de todos os tempos de toda a história do futebol, era um bilhete
premiado.
Faltava o mata-mata, o Macaé. Dois jogos separavam o céu da
resignação em não aproveitar o bilhete premiado. No primeiro, um 5 a 3 que
chegou a ser 5 a 1, em um Castelão superlotado. 47 mil pessoas num estádio que
atualmente abriga 40 mil de maneira civilizada. O Botafogo, por exemplo, não
deve ter colocado sozinho um público assim esse ano. E olha que o Botafogo está
bem, bonito, lutando pela Libertadores, cheio de graça e com um
craque-bilheteria, Seedorf, no meio-campo. Voltemos ao Sampaio, pois.
Em Macaé, a pressão foi pesada. Os donos da casa fizeram 1 a
0, mas Eloir, em um chute forte da entrada da área, cravou o lugar boliviano no
subsolo do céu. É subsolo, alguns poderiam dizer. Mas também é céu. Questão de
copo meio cheio ou meio vazio, mas para um time que em 2005 teve até as traves
roubadas do próprio CT, é um grande avanço. E o herói tinha que ser Eloir, o
melhor jogador do time desde sempre, o gaúcho que colocou Uruguaiana no mapa de
São Luís e que agora já pode se equiparar, com esse gol decisivo, a Marcelo
Baron, craque da Série C de 1997.
Em suma, o Sampaio está de volta ao seu lugar, com a força
do elenco, da tradição, da torcida apaixonada e do imponderável, esse anjo da
guarda que protege bêbados, crianças e times de futebol que merecem vencer. E
pode querer mais, desde que se planeje para isso. Porque se brincar de montar e
desmontar time igual lego durante o torneio, vai levar chumbo.
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