A roleta do futebol é um moto-contínuo de apostas feitas
pelos profissionais da bola, algumas delas certas, muitas outras erradas. Nem
todas bem sucedidas por mérito do apostador ou muito menos desventuradas por falta
de competência dos técnicos, diretores e observadores dos times, que têm a
missão de garimpar, encontrar e lapidar as pedras preciosas que julgam ter em
mãos. Existem jogadores nos quais todo mundo acredita e que não explodem, assim
como aqueles que contrariam todas as previsões negativas e se tornam estrelas,
sentando na janelinha do ônibus que dá voltas pelo mundo futebolístico.
Zezinho (foto), hoje meia do Atlético Paranaense e nascido em 1992,
é um exemplo clássico do primeiro caso. Formado como lateral esquerdo, logo
encantou a todos com uma habilidade acima da média. Canhoto, dono de um chute
forte, partia para cima dos zagueiros e já com 16 anos foi promovido para os
profissionais do Juventude. Virou meia, foi cortejado pelo Arsenal e ganhou um
contrato acima da realidade do clube, com multa rescisória de R$ 40 milhões.
Com o dinheiro, comprou um BMW velho, no qual o irmão dele o levava para o
treino todos os dias.
Alex Telles, que se enquadra no segundo caso, vivia uma
realidade completamente diferente. Também nascido em 1992, era reserva de
Zezinho na lateral esquerda. Pouco desenvolvido fisicamente, tinha um bom
cruzamento, mas estava longe de se destacar como o rival pela posição. Em reuniões internas, a dispensa dele foi cogitada em diversas
oportunidades e só não aconteceu de fato porque ele é nascido em Caxias do Sul
e a permanência dele não significava um grande custo para o clube. Ia de ônibus
para o treino.
Zezinho, que é nascido em Uruguaiana, saiu do Juventude vendido, em 2010. Foi para o Santos, onde não conseguiu se firmar. Ao invés do Arsenal,
destino provável em caso de um bom rendimento ao lado de Neymar (muitos gaúchos
diziam em 2009 que Zezinho era melhor do que Neymar), o destino, por
empréstimo, foi o Bahia, onde também não acertou. As noitadas, a bebida, a vida
intensa fora de campo fizeram com que ele perdesse oportunidades, e a volta ao
Atlético Paranaense na Série B foi a melhor opção. Hoje volante, tem algum destaque,
mas está longe de cumprir as expectativas que criou aos 17 anos.
Alex Telles, ao contrário, ficou em Caxias do Sul até o ano
passado. Já havia crescido, foi uma das revelações do clube em 2011, e a Série
D parecia pequena demais para o seu futebol. Disciplinado, é descrito pelos
técnicos como um jogador com "mentalidade europeia" e "muito
inteligente". Tomou conta da lateral esquerda do Grêmio, a ponto de barrar
o badalado André Santos e ser apontado como uma das principais revelações do
Campeonato Brasileiro.
Nesta quarta-feira, os dois se enfrentam no jogo de volta da
Copa do Brasil entre Grêmio e Atlético Paranaense. E o mundo do futebol pode
dar mais uma volta, deixando Alex Telles no meio do caminho e levando Zezinho
para a final do torneio, inédita para a história do Furacão. Ainda assim, hoje
é difícil acreditar que o destino dos dois seja muito diferente do que já foi
traçado até agora, por mais que o futebol tenha o costume de surpreender e
pregar peças nas certezas que construímos com o tempo.
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